sábado, 26 de junho de 2010

Reprofissionalizando-se

Muitas vezes, consideramos que nossa atuação deve seguir estritamente nosso campo de formação, e quiçá, a formação acadêmica nos desse a oportunidade de vasculhar mais sobre nossa atuação e como é amplo nosso campo como atores da promoção do bem estar social.
É de grande relevância que busquemos dentro da psicologia, enquanto ciência e profissão, conhecer, articular, avaliar e se politizar em vários âmbitos, a fim de estimular reflexões que considerem a profissão como um todo e não em suas práticas particulares, uma vez que os principais dilemas éticos não se restringem a práticas específicas, e surgem em quaisquer contextos de atuação.
Conhecer nossa realidade histórica, política, econômica, cultura e social, nos traz uma visão diversificada e para uma maior e melhor inserção no mercado de trabalho tão competitivo, e que faz a diferença para aquele que se atualiza constantemente; atendendo assim, dentro dos Princípios Fundamentais de nosso Código de Ética, o inciso IV: “O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do contínuo aprimoramento profissional, contribuindo para o desenvolvimento da Psicologia como campo científico de conhecimento e de prática.”
Todos os avanços históricos sociais se fizeram mediante movimentos populares, e assim ainda o farão. Compreender os motivos da formação de um movimento requer a percepção das demandas que afligem seus atores e, consequentemente, identificar de que ordem são essas reivindicações, e que tipo de remédio elas requerem. A manutenção do movimento depende de estratégias e de articulações utilizadas em sua trajetória, com o intuito de atingir os objetivos a que se propõe.
Um outro tipo de crítica sobre a falta de politização está no pouco avanço sobre questões da própria atuação do psicólogo quando se aliena, perdendo muito tempo escolhendo e defendendo a bandeira ideológica das teorias, preocupando-se muito pouco na relação das novas formas de trabalho e sua atuação frente às políticas públicas na busca do bem estar geral da sociedade.
Nas remotas épocas da Ditadura, grupos e cidadãos se organizavam, muitas vezes clandestinamente, ou com inspiração socialista, mas com o intuito da defesa de direitos e assim criavam sua própria identidade pelo que faziam. Essas identidades foram ganhando espaço com o decorrer dos anos pós-ditadura, e o que vemos hoje, é a sociedade civil organizada e constituída em diversas ONGs, representativas do Terceiro Setor, onde em sua maioria faz presente o papel do psicólogo e abrindo cada vez mais espaço para o nosso mercado de trabalho.
Atualmente, há vários segmentos de atuação. Existem vários de nossos colegas profissionais atuando nos mais diversos setores como educação popular, cidadania, ambientalismo, cultura, comunidades, direitos humanos, direitos éticos, direitos homoafetivos, discriminações raciais, direitos infantil e familiar, etc.
Esta diversificação de atuação teve um grande avanço a partir das Políticas Nacionais de Assistência Social onde houve uma vasta inserção e valorização da psicologia. Estamos diante de um marco histórico da Assistência Social, estabelecida enquanto política pública social, e aqui o psicólogo garante seu lugar, seu papel e importância na construção deste sistema.
Nossa atuação está cada vez mais saindo das clínicas particulares e ocupando outros espaços. Poderia-se então pensar se: a profissionalização do psicólogo está acompanhando o passo da globalização? Será que os psicólogos estão diversificando seus serviços para se ajustar às condições do mercado globalizado?

Considero que fechar-se em si mesmo, não se atualizando e capacitando-se é correr o risco de uma formação acadêmica atravancada e estagnizada.
A psicologia se encontra inserida nesse contexto de construção e conquistas, oferecendo contribuições relevantes para que a política de assistência social realmente promova qualidade de vida aos cidadãos. E nesta construção, o psicólogo não entra apenas como simples ator colaborativo, podendo ainda participar como gestor de novas políticas e controle social.
Neste cenário, existe ainda a possibilidade de atuação nos conselhos de direitos, cuja visão da psicologia tem muito a contribuir através do estudo e conhecimento da realidade. Os conselheiros são agentes públicos porque tem poder de decisão, de deliberação nos assuntos de interesse coletivo, aprovação de planos, gastos com recursos públicos, fiscalização e acompanhamento da política pública.
O futuro da profissão depende da capacidade dessa profissão dialogar com as mais diversas necessidades e políticas públicas sociais.
A grande dificuldade é sair da visão estreita da formação acadêmica e criar novas ofertas de serviços. Na falta desta criatividade, acaba-se fazendo qualquer coisa, e o maior problema é que às vezes, este “qualquer coisa” se torne de “de qualquer jeito”.
Pensem: reprofissionalizar-se não significa mudar de atuação por incapacidade ou inabilidade técnica, mas sim, inteligência na conquista de novos olhares sociais.