sábado, 17 de abril de 2010

Formação e Conhecimento

Frequentemente repercute algum noticiário na mídia sobre graves erros cometidos por profissionais que até então, eram considerados competentes no meio profissional. São médicos colocando em risco a vida de pacientes, psicólogos com sérias infrações éticas, advogados utilizando-se das leis para interesses próprios e por aí vai outras tantas listas de desvio das ações profissionais.
Uma das questões que coloco como pauta de reflexão, é sobre a relação que o profissional mantém entre sua formação e o conhecimento, uma vez que, a constante capacitação técnica diminui a porcentagem do cometimento de deslizes. Creio que a desatualização intelectual pode vir a atravancar a constante formação profissional e problematizar suas intervenções.
Discorrendo sobre a área da psicologia, classicamente, a figura do tripé é utilizada para representar o que seria uma boa formação do terapeuta: análise pessoal, supervisão e estudo teórico com seus pares.
É sempre bom lembrar que estamos vivenciando uma época na qual o conhecimento, a capacitação e habilidades são sumamente valorizadas, e por isso, o profissional tem que se haver com a formação teórica juntamente com o decorrer de sua prática, impossibilitando assim que a experiência pessoal não fique estagnada frente à evolução da ciência e do conhecimento.
Assim, reconhece-se, atualmente, a necessidade de um profissional sintonizado com as demandas sociais. Embora esse seja um fato admitido pelo agente formador, percebemos o quanto é difícil modificar o panorama da formação, sendo que nem todos os profissionais se engajam perante as modificações políticossociais, desenvolvimento científico, flexibilidade na aceitação de visões diversificadas ou ainda, aceitação e reflexão subjetivas diante de críticas técnicas e desatualização.
Em épocas remotas, Freud já admoestava sobre a necessidade do profissional se manter atualizado por meio da interlocução com outros campos do saber, como ele próprio o fazia, com a antropologia, com suas coleções de obras artísticas, com a literatura e com a arte em geral. Lacan, por sua vez, intensificou essa prática, mantendo interessantíssimas intersecções com campos aparentemente díspares, como a física, a filosofia, a matemática e tantos outros mais.
A pressão da realidade social exige ajustes criativos e interminável atualização técnica dos profissionais que se encontram em situação diferenciada e privilegiada, por se manterem em um esbarrar constante com a população que desses serviços se utiliza, o que mobiliza sua inquietude enquanto pesquisadores, impulsionando-os a refletir sobre os aspectos da realidade que se incorporam às necessidades cotidianas da formação e que não podem ser dela apartadas e requer de seu executante, uma tomada de posição pessoal, ética, política, social, profissional.

Em termos conclusivos, ousaria dizer, num momento presente e histórico em que qualquer conhecimento é vastamente ofertado, cabe ao profissional interrogar-se acerca de sua relação com os livros, com os filmes, com a arte, com a mídia e com as outras formas de manifestação das produções do conhecimento humano. É desse caldo que nasce a construção de algo seu que, se registrado, pode também vir a ser algo da ordem do conhecimento.